• Lavrador trabalhando a terra por João Pedro Marnoto A máquina

    Ainda era uma aldeia sossegada. Começaram a lavrar o quintal da casa onde viviam, ao longo do muro que demarca da via pública a courela cimeira. Ela à frente do jumento e ele atrás com a rabiça do arado. O jumento estacou subitamente e viram alguém chegar à cancela. Ele foi ver. O desconhecido disse-lhe [...] Continuar a Ler
  • A casa junto à igreja de Castedo do Douro onde António Cabral nasceu e passou parte da sua infância (do espólio de António Cabral). A terra onde verdadeiramente nasces

    A casa junto à igreja de Castedo do Douro onde António Cabral nasceu e passou parte da sua infância (do espólio de António Cabral). A terra onde verdadeiramente nasces não é onde te pariu a tua mãe, mas onde foste gerado e/ou passaste a infância, mesmo parte dela, que te marcou para sempre. Veredas e [...] Continuar a Ler
  • Sande (1989), por Georges Dussaud Foi de facto numa roga

    De seu nome Francisco Alexandre Lobo, o caseiro viera para a quinta numa roga de montanheiros dos lados de Jales. Na sua terra, a Cerdeira, tinha assistido à debandada dos rapazes da sua idade, desejosos de vida mais limpa, a governarem agora a vida na França e outros países onde o dia, dizem eles, só tem vinte e quatro horas. Assistiu a isso, enquanto se atolava nos leiros e olhava as estrelas, antes de romper o dia, umas cabras que se lhe punham a chocalhar a luz na testa como o rapaz da campainha à frente dum enterro. Vivia numa casa térrea, só com a mãe e o pai, dois tropeços resignados, e em Agosto ouvia o irmão, que regressava da estranja num bom automóvel e já tinha dinheiro para mandar fazer uma casa e comprar umas courelas para milho e batata com fartura, além de uma pipoca de morangueiro.

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  • Comboio do Douro O comboio do Douro

    Comboio do Douro Do comboio a paisagem oposta vê-se mais e levanta problemas, por isso é bom que no túnel da Valeira os olhos fechem para contas. Tão loquaz seria o alcantil a falar de naufrágios e gente na miséria, peixes que vêm à tona por dá-cá-aquela-palha! Lucidamente in- conveniente, senhor próximo ex-Primeiro Ministro. A [...] Continuar a Ler
  • Ilustração de Nuno Barreto para Poemas Durienses de António Cabral, livro de poesia sobre o Douro natal de António Cabral O lavrador percorrendo a vinha

    Ilustração de Nuno Barreto para Poemas Durienses de António Cabral Ei-lo no meio da vinha, atento, como se ouvisse o próprio coração. Uma vide que toca é um músculo vibrando; um cacho que descobre é um pensamento novo. A terra ondula nos seus passos e fez dele um arbusto sonhador. Quando os seus olhos pousam [...] Continuar a Ler
  • Homem, por Luís Borges Oh meu rico S. João

    Homem, por Luís Borges Ao meu espírito, como aos de toda a gente, dá-lhes às vezes para fazer ventolas no passeio dominical. Sentida a guinada, desvio-me, como não pode deixar de ser. Ainda bem, se o imprevisto é consolador. Ir à Serra da Estrela e parar no caminho para o comes-e-bebes. O sol a derreter [...] Continuar a Ler
  • Ilustração de Nuno Barreto para Poemas Durienses de António Cabral, livro de poesia sobre o Douro natal de António Cabral Uma árvore

    Podíamos ser como esta árvore que dá flores, sem pensar em mais nada. O sol pousa-lhe nos ramos e todas as pétalas o saúdam muito simplesmente, porque é essa a sua maneira de ser. Uma ave descreveu um círculo e passou, um rumor de asas desce pelas folhas, uma canção fere docemente o espaço. Tudo [...] Continuar a Ler
  • Mulher, por Cipriano Dourado Canção da fronteira

    Moça tão formosa não vi na fronteira como uma ceifeira que cantava rosa. Foi em Barca d’Alva quando o sol nascia uma ceifeira cantava cantando vertia trovas na fronteira quando o sol nascia. A saia de chita, bluzinha limão. Que coisa bonita sobre o coração! Nos ramos da luz um fruto limão. De foice na [...] Continuar a Ler
  • Fotografia por Chanan Greenblatt (Unsplash) Anoitece

    Anoitece e agora, sim, a lua nova abeira-se do mar, dúvida nua antes da purificação. Uma gaivota vai seguir para lá e eu peço-lhe inutilmente que me leve consigo. O tempo deixará de existir quando a idade for uma estrela sem lados.

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  • Vindimas, por André Cid Proença A vindima

    Na última vindima, ao cortar as uvas que deitava nos baldes, a gente falava alto e dizia graçolas como nos anos anteriores. Isso era o que se via. Mas de facto a gente cortava bocadinhos de si própria e deitava logo punhados de terra no vinho que acabava de descer à cova. Assusta ouvir o [...] Continuar a Ler