A noiva de Caná

Em suma, neste romance estão presentes as paisagens, as gentes, os usos e os costumes, os negócios do Douro, todo um conjunto de aspectos que encantam e desencantam.
As encostas acentuadas, os geios, as actividades agrícolas, os passatempos, a caça, a pesca, as festas, os versos, as cantigas, os rituais vinhateiros, a vida social, a religiosidade, as folias, os amores, tudo se encontra em A Noiva de Caná, um romance que acaba por ser um caleidoscópio do Douro cujo centro de convergência é a quinta das Combareiras e a protagonista que nela se movimenta, Cristina, a “Noiva de Caná”. (Maria da Assunção Monteiro)

 

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Descrição

A Noiva de Caná é a “estória” do quotidiano de uma quinta, Combareiras, ali perto de Castedo. É a “estória” de um Douro vivido e sentido, de uma quinta igual a qualquer outra do Douro com o mesmo oídio, o mesmo míldio, a mesma calda bordalesa, a mesma cava, a mesma escava, a mesma poda, a mesma chapota, os mesmos fungicidas, os mesmos ervicidas e com Bruxelas nos socalcos, na adega e na raiva. O que distinguirá a Quinta das Combareiras das suas “parentas” será a sua alma. Descemos os socalcos e sentimos que a “quinta” respira, sente e reage à ternura do tratamento. Alma que está na sua gente generosa, de temperamentos e personalidades fortes, ainda que, e naturalmente diversas.
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A Noiva de Caná, título simbólico por similitude com as bíblicas bodas do mesmo nome, representadas em quadro existente na quinta, é assim uma “estória” feita de muitos problemas, de muitas preocupações e ocupações que dão beleza a essa alma, aberta às inovações técnicas e sempre atenta à cultura genuína, que, aliás, apoia, ou seja, aos usos, costumes e tradições populares, sem esquecer as festas e romarias, o teatro, as bandas de música, os jogos populares, ou seja, o culto do sagrado e do profano. Aqui se fala do Marquês de Pombal e dos Távoras, de Salazar, de Amália Rodrigues e de Nossa Senhora de Fátima, das colónias e do direito à autodeterminação, do 25 de Abril e da PIDE, e das fraudes, não menos frequentes, quando se trata de “litragens” de “cartões de benefício”, de compra de uvas fora de região demarcada, a que se juntam corrupções de pessoas com ganância desmedida, ainda que não se esqueçam as pessoas honestas que procuram cumprir a lei e denunciar aqueles que sem escrúpulos a esquecem.
(…)
Em suma: ler este livro será um prazer pela profundidade das reflexões e pelas naturalidades narrativa e descritiva, pela linguagem ora erudita ora terra a terra do quotidiano. Filosofia, Psicologia, Poesia e Pedagogia são elementos constantes nesta obra, em cada página. A. Cabral leva-nos da descoberta de nós próprios, do ego e do id, e à descoberta do outro. Transporta-nos por veredas alcantiladas, mas logo nos sossega apontando-nos o caminho seguro para não cairmos em precipícios. Mostra-nos o sentido da vida e a vida sem sentido; demonstra-nos que a vida arrumada é a mais tranquila do que a desarrumada, fala-nos da cegueira dos homens, do valor real da mulher e da trilogia política do saber distinguir verdade-aposta-submissão política. O narrador está atento a cada sopro de vento a cada movimento silencioso das águas, a cada sussurro da natureza… Ouve o bater do coração, penetra nas angústias da alma, desnuda os ambientes, questiona-se, faz-nos parar para reflectir e tempo.
Um romance que vem enriquecer a ficção transmontana. A não perder. 1

No romance dos anos noventa é a António Cabral que lhe coube realizar a grande inovação técnico-narrativa. Subtraindo-se à tentação de centrar o objectivo narrativo no conflito explorador-explorado do realismo tradicional ou doneo-realismo, privilegia em A Noiva de Caná, editado em 1995, uma construção em abyme onde os comportamentos metaficcionais estruturam uma diegese de ascendência camiliana que explora sabiamente a truculência diegética. Deste modo, a composição progressiva da história romanceada da quinta das Combareiras por parte de um misterioso narrador homodiegético, configura uma história interna dirigida a um narratário plural – os leitores – que mascara a história externa da própria construção romanesca e da qual também faz parte o mesmo narrador.
(…)
O equilibrado racionalismo que preside à reflexão sobre a problemática actual dos vinhos do Porto, a qual é suscitada a partir da corrupção de entidades oficiais e da adulteração conseguida com misturas de vinhos importados, bem como sobre as vicissitudes da Casa do Douro e sobre as ameaças que põem em risco a sobrevivência do vinho licoroso como consequência da política agrícola da CEE e ainda sobre os novos desafios a vencer, ajuda também a configurar uma nova estratégia discursiva, longe da denúncia da literatura precedente, sem que por isso, contudo, sejam postos em causa os direitos do trabalhador. 2

Em suma, neste romance estão presentes as paisagens, as gentes, os usos e os costumes, os negócios do Douro, todo um conjunto de aspectos que encantam e desencantam.
As encostas acentuadas, os geios, as actividades agrícolas, os passatempos, a caça, a pesca, as festas, os versos, as cantigas, os rituais vinhateiros, a vida social, a religiosidade, as folias, os amores, tudo se encontra em A Noiva de Caná, um romance que acaba por ser um caleidoscópio do Douro cujo centro de convergência é a quinta das Combareiras e a protagonista que nela se movimenta, Cristina, a “Noiva de Caná”.

António Cabral, nascido na região duriense, transpõe para a obra a sua paixão pela terra e a sua admiração por aqueles que dela vivem. A sua obra ficcional reflecte uma realidade que conhece bem, a do trabalho e entrega das gentes do Douro à terra, da qual conseguem extrair o néctar que lhes permite sobreviver.
Por um lado, há entusiasmo pela região, que é vista de forma eufórica com os seus momentos de alegria, convívio, trabalho e lazer. Por outro lado, António Cabral, conhecedor da realidade duriense no que diz respeito à produção e comercialização do vinho do Porto, dá-nos em A Noiva de Caná imagens de um Douro de contrastes, tanto a nível de condições de vida como de mentalidades e formas de agir.
Na sua obra encontramos a região duriense não só com as suas cantigas, provérbios, os seus hábitos, usos, costumes, linguagem, etc., mas também o trabalho duro, as dificuldades de escoamento do produto, o oportunismo, a exploração do homem duriense, sendo A Noiva de Caná uma obra importante por perpetuar a memória cultural da região, retratando-a em vertentes diversas, inclusive dos sons e silêncios.
Em suma, neste romance estão presentes as paisagens, as gentes, os usos e os costumes, os negócios do Douro, todo um conjunto de aspectos que encantam e desencantam.
As encostas acentuadas, os geios, as actividades agrícolas, os passatempos, a caça, a pesca, as festas, os versos, as cantigas, os rituais vinhateiros, a vida social, a religiosidade, as folias, os amores, tudo se encontra em A Noiva de Caná, um romance que acaba por ser um caleidoscópio do Douro cujo centro de convergência é a quinta das Combareiras e a protagonista que nela se movimenta, Cristina, a “Noiva de Caná”. 3

António Cabral é, juntamente com A. M. Pires Cabral e Bento da Cruz, um dos mais destacados representantes da literatura nordestina. Literatura esta que, não fosse a perseverança destes três autores, dificilmente seria visível.
Além do seu trabalho de divulgação da cultura popular transmontana e duriense através de múltiplos colóquios e múltiplas conferências ao longo do país, António Cabral procura reflectir nas suas obras, quer poéticas, quer ensaísticas, quer ficcionais, na problemática da ruralidade, ruralidade esta apresentada como contraponto da vida na grande cidade. 4

 

  1. AIRES, Ribeiro – “A noiva de caná”, o novo romance de António Cabral. Notícias de Chaves. Chaves, Ano XLVI, n.º 2352 (05-01-1996), pag. 6
  2. ALVAREZ, Eloísa – As vindimas durienses: a História e a ficção em cinquenta anos de narrativa contemporânea (Pina de Morais, Alves Redol, Miguel Torga, Domingos Monteiro, António Cabral). Terra feita voz. Vila Real, N.º3 (1999), pp. 71-72
  3. MONTEIRO, Maria da Assunção – A Noiva de Caná de António Cabral, um caleidoscópio do Douro. Itinerarios: revista de estudios lingüísticos, literarios, históricos y antropológicos. Varsóvia. ISSN 1507-7241. Vol. 7 (2008) pag. 76
  4. MACHADO, José Leon – As penas de Ícaro. Braga: Edições Vercial, 2012. ISBN 978-1477581865

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