• Meninas, Georges Dussaud O jogo autárquico

    Certos órgãos do poder, não só em Portugal, cultivam a superficialidade porque ela, sendo o espaço imediato, se converte facilmente num meio de promoção. O que lhes importa é a acção vistosa e concordante com as tendências do gosto dos espectadores, o qual é na generalidade o gosto para esquecer o quotidiano, o gosto-passatempo. Os [...] Continuar a Ler
  • Gare do Pinhão (1985), por Georges Dussaud Pinhão, 8,20

    Gare do Pinhão (1985), por Georges Dussaud Em Junho, a fruta começa a apetecer. Um homem passeia no cais e debulha uma nêspera com ar de quem faz horas. 8,20 - diz o relógio. Espera-se. O comboio, um monstro de cem bocas, pardo e caduco, fumega lentamente como um charuto abandonado. Manhã de vidro. Vê-se [...] Continuar a Ler
  • Sande (1989), por Georges Dussaud Foi de facto numa roga

    De seu nome Francisco Alexandre Lobo, o caseiro viera para a quinta numa roga de montanheiros dos lados de Jales. Na sua terra, a Cerdeira, tinha assistido à debandada dos rapazes da sua idade, desejosos de vida mais limpa, a governarem agora a vida na França e outros países onde o dia, dizem eles, só tem vinte e quatro horas. Assistiu a isso, enquanto se atolava nos leiros e olhava as estrelas, antes de romper o dia, umas cabras que se lhe punham a chocalhar a luz na testa como o rapaz da campainha à frente dum enterro. Vivia numa casa térrea, só com a mãe e o pai, dois tropeços resignados, e em Agosto ouvia o irmão, que regressava da estranja num bom automóvel e já tinha dinheiro para mandar fazer uma casa e comprar umas courelas para milho e batata com fartura, além de uma pipoca de morangueiro.

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  • Quinta das Bateiras (1988), por Georges Dussaud Douro, meu belo país

    Quinta das Bateiras (1988), por Georges Dussaud Douro, meu belo país do vinho e do suor, bárbaro canto arrancado à penedia por um destino que nos faz andar da alma para os olhos, dos olhos para alma! Douro, eh lá, uma nova era se anuncia e traz aos nossos ouvidos uma promessa de rosas. Ouço [...] Continuar a Ler
  • Casais do Douro (1987), por Georges Dussaud Aos pequenos viticultores durienses

    Casais do Douro (1987), por Georges Dussaud A VINHA, coisa breve. Fica num altinho. E o ti Quim vê ao longe o Marão onde se afundam muitas estrelas brilhantes e é por isso que aí nascem os ventos. Se tossir, levanta-se uma revoada de estorninhos. Estorninhos, ou melhor, um cacho de tinta roriz que solta [...] Continuar a Ler
  • Quinta das Bateiras (1987), por Georges Dussaud Na terra, camponês

    Quinta das Bateiras (1987), por Georges Dussaud Na terra, camponês, vejo-te derreado ao peso de tanto azul, como o chasco que não se deixasse nomear e andasse de ramo em ramo dentro do carrasco, sem descobrir uma saída. Morreremos ambos ao som da mesma flauta, pois ambos temos de cultivar uma vinha em declive. Escrever [...] Continuar a Ler
  • Quinta da Ervamoira (1987), por Georges Dussaud Versos que parecem uma brincadeira mas não são

    Quinta da Ervamoira (1987), por Georges Dussaud I O Douro gera vinho e pedra; vida - - pedra é o que gera: pedra nua bem os- suda, bem os- suda, bem des nuda.   II O Douro gera vinho e pedra - disse al- guém que Deus lá tem, disse al- guém que quis di- [...] Continuar a Ler
  • Quinta de Cimo de Sande (1985), por Georges Dussaud Corrida de cestos vindimos

    Quinta de Cimo de Sande (1985), por Georges Dussaud As vindimas são a maior festa natural do Douro. Trabalha-se e brinca-se, ao mesmo tempo. Um cacho de uvas na mão ou a caminho do lagar é uma promessa. Canta-se à vinda do trabalho; dança-se, à noite, num terreiro, onde se puder dançar; e os próprios [...] Continuar a Ler