No dia vinte de Abril
de um, nove, sete, quatro,
eram quatrocentos búzios
os que enchiam um salão
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Os búzios do 25 de Abril
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Cruzeiro no Douro
O que mais perplexo me deixou numa viagem rio acima foi este velho e célebre pensamento: o caminho que sobe e o caminho que desce são um e o mesmo. Olhei em várias direcções e acabei por revelar a minha perplexidade a um companheiro de ocasião que como eu estava junto da amurada. Para mim [...] Continuar a Ler -
A máquina
Ainda era uma aldeia sossegada. Começaram a lavrar o quintal da casa onde viviam, ao longo do muro que demarca da via pública a courela cimeira. Ela à frente do jumento e ele atrás com a rabiça do arado. O jumento estacou subitamente e viram alguém chegar à cancela. Ele foi ver. O desconhecido disse-lhe [...] Continuar a Ler -
O comboio do Douro
Comboio do Douro Do comboio a paisagem oposta vê-se mais e levanta problemas, por isso é bom que no túnel da Valeira os olhos fechem para contas. Tão loquaz seria o alcantil a falar de naufrágios e gente na miséria, peixes que vêm à tona por dá-cá-aquela-palha! Lucidamente in- conveniente, senhor próximo ex-Primeiro Ministro. A [...] Continuar a Ler -
A vindima
Na última vindima, ao cortar as uvas que deitava nos baldes, a gente falava alto e dizia graçolas como nos anos anteriores. Isso era o que se via. Mas de facto a gente cortava bocadinhos de si própria e deitava logo punhados de terra no vinho que acabava de descer à cova. Assusta ouvir o [...] Continuar a Ler -
Volto de ti
Volto de ti lúcido e refeito. Eu não sabia que as tuas ervas eram feitas de música. No vento, nos passos quem acertou uma vez? Volto neste ramo que tu habitas. Inédito (25 Jan. 1972) Continuar a Ler -
Donde vens a estas horas de pálpebras
Donde vens a estas horas de pálpebras no luar álgido como se não viesses O vento me traz e me concebeu no teu silêncio onde o rosmaninho cresce com o corpo Mãos alvas no interior da noite esquecidas de tudo o que era dantes só projectadas As minhas mãos vêm dos mares próximos do teu [...] Continuar a Ler -
Pequenos agricultores
S/ título, Graça Morais 1. Elegia Estarei prestes a ser um objecto posto de lado? Quando muito, limpo de ferrugem e arrumado num cesto de recordações. Talvez um ramo a estalar, não ao peso das aves, dos frutos e da manhã. Dos filhos que emigraram e escrevem de longe, de aventura em aventura. Também eu [...] Continuar a Ler -
Sábado em Setembro
Hotel Universal, Pedras Salgadas Pedras Salgadas Que seria da luz se não houvesse tantos silêncios incontidos? Contornamos a povoação de mãos dadas com um voo inclinado de estorninhos. A tarde perto do fim. E chegamos finalmente ao parque das Pedras Salgadas. Setembro até à cintura. Quase ninguém. E um resto de água estagnada no [...] Continuar a Ler -
Um cálice de Porto
Ilustração de Edmund J. Sullivan para o Rubáiyát de Omar Khayyám É esta a pipa e prefiro que sejas tu a encher os cálices. Assim. O vinho sobe na fina mangueira sorvido pela tua boca: o horror ao vácuo. Lei da física, a lei do amor. Pouca, a luz da loja começa a juntar-se à [...] Continuar a Ler