À memória do grande poeta e amigo António Cabral

A turba engole-me em sentidos
Pela manhã o disco referve
A minha antefebre esta volúpia
De aromas e cores

Vejo-te do arco

Dizes-me
Para que me debruce na minha vez
E não escorregue na vertigem

Silencio-me
Deixo
Que o Douro exale

A minha circunstância
É ser assim.

in Castas (2012)

Marília Miranda Lopes

Nasceu a 22 de Maio, no Porto. Poetisa, crítica literária, dramaturga e escritora de canções.

Formou-se em Línguas e Literaturas Modernas (variante de Estudos Portugueses) pela Faculdade de Letras da Universidade da cidade onde nasceu. É professora de Língua Portuguesa do Ensino Secundário e formadora pelo Conselho Científico-Pedagógico de Formação Contínua nas áreas das Didácticas Específicas e das Oficinas de Escrita – Poesia e Teatro. Foi bolseira dos Serviços de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, ao abrigo do programa “Dramaturgia Portuguesa”. Integrou a representação do Norte de Portugal no Congresso Luso-Galaico “O Livro e a Leitura”, realizado em Santiago de Compostela. Participou nos Primeiros Encontros Poéticos de Espanha e Portugal, organizados por Jesus Losada, em Alcanices. Participou, juntamente com Maite Dono, Fernando Echevarría, José Luis Peixoto e Valter Hugo-Mãe, entre outros poetas, no calendário para o ano de 2002, organizado por ADATA, textos estes lidos no mesmo espaço da Raya, constituindo uma comunhão poética entre os dois países. É autora de canções para a infância que integram vários projectos de animação do livro e da leitura a partir da obra de Aquilino Ribeiro, dos irmãos Grimm e de Alfonso Sastre. Escreveu Poesis em Oásis (poesia, 1994), Framboesas (Teatro, 1996), Geometria (poesia, 1998), O Escudo Invisível (conto da antologia “Histórias Tiradas da Gaveta – edições Tellus); O mais belo segredo do mundo (poema da antologia “Pequeno Cancioneiro de Natal, 2000); Maria da Silva, pastora e rainha (peça representada pela Filandorra- Teatro do Nordeste; 2002) Templo (poesia, colecção Tellus, nº10; 2003); Duendouro – Era uma vez um rio… (Teatro, 2007 – Edições Afrontamento); Aqua (conto incluído na antologia “Pegadas”, editado pela Q de Vien, com autores portugueses e espanhóis); e “Castas” (Poesia, 2012 – edições Q de Vien Cadernos da Porta Verde do Sétimo Andar).
Tem participado activamente em alguns eventos culturais, tais como “Portuguesia; no Festival de Literatura do Algarve, em Filo-cafés promovidos pela Incomunidade e pela Associação Extrapolar e Raias Poéticas (Famalicão, 2012). Tem publicado poesia, prosa poética e recensões, quer no seu blog “Cosmoscripto”, quer em revistas e jornais, entre os quais o “Letras & Letras“ (recensão do livro “Imobilidade Fulminante” de António Ramos Rosa, entre outras publicações) e Triplov.