A criança brinca muito, brinca onde quer que se encontre, se tem condições psicofisiológicas para isso: em casa, na escola e na rua, quando se veste, lava, come e caminha, mesmo quando estuda ou reza, quando canta e até quando chora. Mesmo quando brinca, pode fazer dos lances de um determinado jogo motivo para um jogo novo.

– António Cabral, Jogos Populares Infantis

Jogo da Macaca | Jogos Populares Infantis

1. A participação é individual, por séries de quatro jogadores.

2. A macaca desenha-se num terreiro (com um pau) ou numa placa de cimento, eventualmente de alcatrão (com giz).

3. Dentre os vários desenhos da macaca, optou-se, nos I Jogos Populares Transmontanos Infantis, pelo seguinte:

Jogo da Macaca | Jogos Populares Infantis

4. As casas 2, 3, 4 e 5 terão uma área conjunta de aproximadamente quatro metros quadrados.

5. Sorteia-se a ordem do jogo, pois o primeiro a jogar tem vantagem.

6. A malha é lançada para a casa 1, à distância de cerca de dois metros, tendo de cair dentro, sem “queimar” o risco.

7. O jogador terá de percorrer as casas todas, ao chiclo-pé ou pé-coxinho, tocando a malha, de casa em casa, com o pé assente no chão, sem que a malha “queime” qualquer risco. Se quiser, pode parar um pouco no “descanso” (casinha do meio).

8. Feita a primeira volta, a malha para a segunda é lançada para a casa 2, seguindo-se o mesmo percurso, a partir da casa 1. Terminada a segunda volta, a malha é lançada para a casa 3, e assim sucessivamente.

9. Cada volta termina, saindo-se pela 1.

10. Completada a quinta volta, o jogador lança, de costas, a malha da casa x para cada uma das cinco casas. Se a malha cair numa casa, esta fica fechada para os outros jogadores, que lá não podem passar. Caindo no “descanso”, as casa ficam “abertas”.

11. Apenas cometa um erro, o jogador sai e dá lugar a outro.

12. Cada jogador pode fazer cinco voltas, ganhando o jogo aquele que mais voltas e casas fizer.

Há quem chame a este jogo “amarelinha”. Em Mondim de Basto tem o nome de Cartola.

Outros jogos da Macaca

Nas casas 4 e 5, 7 e 8 são colocados os dois pés simultaneamente. Feitas as últimas casas, tem de efetuar-se o percurso contrário. A malha é lançada inicialmente para a casa 1 e, feito o percurso, a criança tem de a apanhar, sem pôr os dois pés no chão. É depois lançada para a casa 2, etc. Durante o jogo nem a malha nem os pés podem queimar os traços. Vence a criança que primeiro acabar o jogo, pelo que, antes de este se iniciar, é conveniente fazer um sorteio para a ordem de saída.

Jogo da Macaca | Jogos Populares Infantis
Jogo da Macaca | Jogos Populares Infantis

Neste esquema, a malha é lançada para a casa 1 e, depois, conduzida ao pé-coxinho até à casa 6, sem queimar os traços. Seguidamente, lança-se a malha para a casa 2, e assim sucessivamente. Vence o que primeiro fizer todas as casas.

Alguns traçados do jogo da Macaca

António Cabral para Eito Fora por Pedro Colaço Rosário (2001)

António Cabral [1931-2007] foi um poeta, ficcionista, cronista, ensaísta, dramaturgo, etnógrafo e divulgador da cultura popular portuguesa.

Nascido em Castedo do Douro, em pleno coração duriense, a 30 de Abril de 1931, iniciou a actividade literária com o livro de poesia Sonhos do meu anjo, publicado em 1951. Ao longo de 56 anos de carreira dedicada à escrita, publicou mais de 50 livros em nome próprio, abraçando géneros tão diversos como a poesia, o teatro, a ficção e o ensaio, dedicando-se em paralelo ao estudo apurado e divulgação das tradições populares portuguesas. As suas raízes transmontano-durienses e a ligação à terra que o viu nascer, “o Paraíso do vinho e do suor“, são presença incontornável em toda a sua obra.

Colaborou em jornais e revistas de todo o país, co-fundou as publicações Setentrião, Tellus e Nordeste Cultural, participou em programas televisivos, radiofónicos e conferências, contribuiu com textos para várias antologias, colectâneas e manuais escolares, prefaciou livros. Alguns dos seus poemas foram cantados, no período pré 25 de Abril, por Francisco Fanhais, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e, mais recentemente, interpretados pelos Xícara, Rui Spranger, Blandino e Rui David.

No campo da intervenção sociocultural dirigiu, a nível distrital, instituições como o F.A.O.J. (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis) e o I.N.A.T.E.L. (Instituto Nacional de Aproveitamento dos Tempos Livres), fundou e co-fundou o Centro Cultural Regional de Vila Real (C.C.R.V.R.) e A.N.A.S.C. (Associação Nacional dos Animadores Socioculturais), respectivamente. Como Presidente do C.C.R.V.R., promoveu cinco encontros de escritores e jornalistas de Trás-os-Montes e Alto Douro e impulsionou a realização de vários encontros de jogos populares em Portugal e no estrangeiro.

Diplomado em Teologia pelo Seminário de Santa Clara de Vila Real e Licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto, António Cabral exerceu actividade de docente nesta cidade desde 1961 até 2007, no ensino particular, secundário e Magistério Primário, com um breve interregno entre 1988 e 1991, anos em que se dedicou à investigação de jogos populares e ludoteoria como bolseiro do Ministério da Educação.

Foi agraciado com as medalhas de prata de mérito municipal pelas autarquias de Alijó (1985) e Vila Real (1990).

António Cabral faleceu em Vila Real, vítima de doença cardíaca, a 23 de Outubro de 2007. Tinha 76 anos de idade. Nesse mesmo ano de 2007 publicou o livro de poesia O rio que perdeu as margens e deixou no prelo A tentação de Santo Antão, prémio nacional de poesia Fernão Magalhães Gonçalves.

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