Algumas tradições do Carnaval (em Trás-os-Montes e Alto Douro)

Em Paradinha Nova fazem bonecos de palha, no dia de Carnaval, e distribuem-nos pelos bairros da aldeia. À noite, embarram-nos em árvores e destroem-nos à pancada, com paus.

Em Pinela e Babe, os vizinhos entram em casa no dia de Carnaval e trocam a panela do butelo por outra onde há apenas cebola. Em Babe levam a panela para a rua.

Em Babe, terça-feira à noite, mascaram-se adultos e crianças e vão a casa dos vizinhos sem se deixarem reconhecer. Chamam-se farramechos ou farramasqueiros.

Em Pinela, na segunda-feira à tardinha, fazem um boneco e vão escondê-lo numa casa qualquer, sem o dono saber. Na terça-feira à tarde, dão volta à aldeia a saber do entrudo. Na casa onde for encontrado têm de lhes dar de comer. Na quarta-feira de tarde queimam o entrudo.

Em Penhas Juntas, na terça-feira de Carnaval, os rapazes desfazem a cama às raparigas e as raparigas aos rapazes. Se for necessário entram pela janela e deitam farinha ou açúcar na cama. Na noite de Carnaval, rapazes e raparigas também se vestem de caretos e vão pedir pelas casas.

Nas aldeias da Bouça e Ferradosa jungem dois burros e com um arado fazem que lavram. Dois homens trazem um saco de cinza e fazem que vão semeando, enquanto deitam cinza às pessoas.

Em Carrazedo, no dia de Carnaval à noite, os rapazes fazem um boneco de palha e vão colocá-lo à porta das moças. Cada uma durante a noite, vigia e, se o boneco de palha estiver à sua porta, vai colocá-lo a outra. De manhã, a moça onde estivesse o boneco de palha não casava.

Estes elementos são extraídos da revista Brigantia (Bragança, 1987), dirigida pelo investigador Belarmino Afonso. Algumas das tradições, com uma ou outra variante, são comuns a todo o país, como deitar cinza (farinha ou água) às pessoas, usar máscaras e queimar o Entrudo.

Em Podence (Macedo de Cavaleiros) os caretos são vistosos e barulhentos, havendo quem pense tratar-se da figuração de forças obscuras da natureza como o Espírito da Vegetação ou uma espécie de demónios brincalhões a que não é alheia uma tradição que ganhou corpo nos autos populares. As máscaras de Lazarim (Lamego) são também muito expressivas, tendo-se já convertido numa poderosa atracção turística. Costume bem pitoresco é ainda o do Cavalinho que se usava e se vê cada vez menos nas aldeias durienses.

António Cabral para Eito Fora por Pedro Colaço Rosário (2001)

António Cabral [1931-2007] foi um poeta, ficcionista, cronista, ensaísta, dramaturgo, etnógrafo e divulgador da cultura popular portuguesa.

Nascido em Castedo do Douro, em pleno coração duriense, a 30 de Abril de 1931, iniciou a actividade literária com o livro de poesia Sonhos do meu anjo, publicado em 1951. Ao longo de 56 anos de carreira dedicada à escrita, publicou mais de 50 livros em nome próprio, abraçando géneros tão diversos como a poesia, o teatro, a ficção e o ensaio, dedicando-se em paralelo ao estudo apurado e divulgação das tradições populares portuguesas. As suas raízes transmontano-durienses e a ligação à terra que o viu nascer, “o Paraíso do vinho e do suor“, são presença incontornável em toda a sua obra.

Colaborou em jornais e revistas de todo o país, co-fundou as publicações Setentrião, Tellus e Nordeste Cultural, participou em programas televisivos, radiofónicos e conferências, contribuiu com textos para várias antologias, colectâneas e manuais escolares, prefaciou livros. Alguns dos seus poemas foram cantados, no período pré 25 de Abril, por Francisco Fanhais, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e, mais recentemente, interpretados pelos Xícara, Rui Spranger, Blandino e Rui David.

No campo da intervenção sociocultural dirigiu, a nível distrital, instituições como o F.A.O.J. (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis) e o I.N.A.T.E.L. (Instituto Nacional de Aproveitamento dos Tempos Livres), fundou e co-fundou o Centro Cultural Regional de Vila Real (C.C.R.V.R.) e A.N.A.S.C. (Associação Nacional dos Animadores Socioculturais), respectivamente. Como Presidente do C.C.R.V.R., promoveu cinco encontros de escritores e jornalistas de Trás-os-Montes e Alto Douro e impulsionou a realização de vários encontros de jogos populares em Portugal e no estrangeiro.

Diplomado em Teologia pelo Seminário de Santa Clara de Vila Real e Licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto, António Cabral exerceu actividade de docente nesta cidade desde 1961 até 2007, no ensino particular, secundário e Magistério Primário, com um breve interregno entre 1988 e 1991, anos em que se dedicou à investigação de jogos populares e ludoteoria como bolseiro do Ministério da Educação.

Foi agraciado com as medalhas de prata de mérito municipal pelas autarquias de Alijó (1985) e Vila Real (1990).

António Cabral faleceu em Vila Real, vítima de doença cardíaca, a 23 de Outubro de 2007. Tinha 76 anos de idade. Nesse mesmo ano de 2007 publicou o livro de poesia O rio que perdeu as margens e deixou no prelo A tentação de Santo Antão, prémio nacional de poesia Fernão Magalhães Gonçalves.

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