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Uma árvore
Podíamos ser como esta árvore que dá flores, sem pensar em mais nada. O sol pousa-lhe nos ramos e todas as pétalas o saúdam muito simplesmente, porque é essa a sua maneira de ser. Uma ave descreveu um círculo e passou, um rumor de asas desce pelas folhas, uma canção fere docemente o espaço. Tudo [...] Continuar a Ler -
Canção da fronteira
Moça tão formosa não vi na fronteira como uma ceifeira que cantava rosa. Foi em Barca d’Alva quando o sol nascia uma ceifeira cantava cantando vertia trovas na fronteira quando o sol nascia. A saia de chita, bluzinha limão. Que coisa bonita sobre o coração! Nos ramos da luz um fruto limão. De foice na [...] Continuar a Ler -
Eu…
Da fraga jorra a água, Eu sou a fraga, A chorar de mágoa. Sou a vinha, Prenhe de vida Na vindima. A derramar folhas Como flores de todas as cores, No outono. Sou a cepa velhinha, retorcida, A contar histórias de vidas, Perdidas no esquecimento. Sou o socalco rasgado Com suor e sofrimento, Degrau da […]
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Nuno Figueiredo
Prémio Literário António Cabral 2017 Fotografia por Fabrizio Verrecchia (Unsplash) Sublimação da matéria pouso a mão sobre a terra e digo: sou daqui, esta é a minha casa, aqui pertenço. eu sou deste país feito de barro e pedras onde à noite vêm beber as árvores, onde nascem os rios e acordam as palavras. afago [...] Continuar a Ler -
A carta
Ao António Cabral Amigo, estou bem, obrigado! (Entre nós a verdade persiste) é aqui que gosto de estar, neste largo planalto queimado onde o barrosão ainda resiste. Quero-me no meio deste Povo de suor, de nervos, de olhos baços com mãos que amadurecem o centeio e longas noites para reparação dos cansaços sem fantasmas nem [...] Continuar a Ler -
Isso de uma personalidade poética
Não tenho uma personalidade poética, não quero ter uma personalidade poética, isso de uma personalidade poética é um artifício, uma abstracção, um limite, um bluff. Respiro os quatro ventos que me entram na carne, pelas palavras, revolvem, estilhaçam, refazem as vísceras e o pensamento, as vísceras do pensamento. Estou atento a todas as formas do […]
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Volto de ti
Volto de ti lúcido e refeito. Eu não sabia que as tuas ervas eram feitas de música. No vento, nos passos quem acertou uma vez? Volto neste ramo que tu habitas. Inédito (25 Jan. 1972) Continuar a Ler -
Homem-farrapo
Homem-farrapo, sejas tu quem fores, Até na sepultura, estou contigo. Abjuro o meu egoísmo e hoje, ofereço-te A inviolada ternura desta página, Magra flor, mas consciente, do meu cérebro. Homem-farrapo, olhado e abandonado Como um farrapo sórdido. Apareces Na chuva ininterrupta das notícias, Criado e recriado, a toda a hora. Farrapo, sim: o que é […]
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Donde vens a estas horas de pálpebras
Donde vens a estas horas de pálpebras no luar álgido como se não viesses O vento me traz e me concebeu no teu silêncio onde o rosmaninho cresce com o corpo Mãos alvas no interior da noite esquecidas de tudo o que era dantes só projectadas As minhas mãos vêm dos mares próximos do teu [...] Continuar a Ler -
Douro novo
À memória de António Cabral, grande poeta duriense I A luz doutras miragens acorda em teus espelhos translúcidas memórias, nostálgicas vertigens, paisagens escondidas em mágicas cortinas, colinas que deslizam em escadas líquidas, magia desdobrada, a descoberta que, a par de um Douro-terra, navega um douro-prata! II Magia tão secreta onde há perdidos sonhos, naufrágios, cachoeiras, […]
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