• Festa dos Rapazes por Raquel Costa A Festa dos Rapazes

    O Padre Belarmino Afonso conta que, num dia 26 de Dezembro, chegou a Deilão (concelho de Bragança) para celebrar missa, ficando intrigado com os choros e grande barulheira que ouvia na rua. Suspeitando que se tratava de brincadeira dos rapazes da aldeia, acercou-se do local donde vinha a algazarra e pôde apreciar um simulacro lúdico de funeral em que os acompanhantes, com trejeitos bizarros, gritavam a bom gritar, gritos que traziam dentro de um riso de chacota e folia. Numa escada a servir de esquife via-se um rapaz, o morto, seguido de outro rapaz grotescamente vestido de padre que, com a seriedade possível, recitava um “reco eterno” (um requiem) de latim estropiado e ajustado à circunstância. De quando em quando, aspergia o infeliz com água benta, ou antes, com uma água qualquer tirada de um charco e posta num caldeiro velho.

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  • Diabo O Diabo

    No Auto de Natal o actor que fazia de Diabo levou tão a sério o seu papel que, após divertir a assistência, desprendeu um cordeirinho do Presépio e fugiu com ele. Ainda houve quem o perseguisse, mas o marau, enfarruscado, cornos e rabigo, arreganhava a dentuça que cuspia lume. Porra, deixá-lo ir.

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  • Formigos Os formigos

    O automóvel chega às Taipas, desliza por uma rua prolongada entre muretes e coisas verdes e pára, segundo o combinado, junto do tal limoeiro. Uma pena que aquele pinheiro manso, farfalhudo como um discurso, não estivesse também ao alcance da mão.

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  • São Nicolau de Mira (1623-1650) S. Nicolau e o Pai Natal

    Que o culto de S. Nicolau acabasse por dar origem ao Pai Natal tem a sua razão de ser: a tradição imaginou-o e iconografou-o como amigo das crianças, como se pode ver na catedral do Funchal em que é representado com mitra e báculo (bispo que era) e com três meninos ressuscitados numa tina (obra [...] Continuar a Ler
  • Jogo das escondidas Lengalengas várias

    Jogo das escondidas "O que percorre esses textos, breves, rimados, e sobretudo sonoros e ritmados, é a euforia da linguagem, mais até do que a da língua; é o prazer da palavra, que se compõe ou decompõe, que se opõe ou se associa, que imita ou obstrui, que se encadeia, ou se suspende, ou se [...] Continuar a Ler
  • António Cabral com o grupo vila-realense Os Pyjamas Os Pyjamantes

    Existe em Vila Real, desde 1956, uma confraria que não tem outra finalidade do que comer bem, beber melhor e encarar a vida com um sorriso permanente, pelo que os pyjamantes se reúnem uma vez por ano, convencidos de que os anos são sempre muitos no calendário da fraternidade em festa. O sábado que precede [...] Continuar a Ler
  • Leonor (Xícara) Leonor

    A Leonor continua descalça, o que sempre lhe deu certa graça. Pelo menos não cheira a chulé e tem nuvem de pó sobre o pé. Digam lá se as madames do Alvor são tão lindas como esta Leonor. Um filhito ranhoso na mão, uma ideia já podre no pão. Meia dúzia de sonhos partidos, a [...] Continuar a Ler
  • Vendedor de castanhas Dia de S. Martinho

    I S. Martinho, S. Martinho, S. Martinho milagreiro, Dá-me um saco de castanhas, Pois tu és um castanheiro. Se não fazes um milagre, Terás de vender a capa, Porque lá diz o ditado: Quem tem capa sempre escapa. REFRÃO Dá-me castanhas bem assadinhas e, a acompanhar, duas sardinhas. Quentes e boas, dá-me castanhas dos castanheiros [...] Continuar a Ler
  • 'Magusto' por Adriano Martins Magustos

    'Magusto' por Adriano Martins Quem entre o dia de Todos os Santos e o dia de S. Martinho, sobretudo neste, não participou num magusto em plena montanha, sentindo-se livre como um animal bravio, como ele cheio de olhos para as coisas em volta, a projectar uma sombra partilhada pelos convivas e pelo vento, bem pouco [...] Continuar a Ler
  • Quinta das Bateiras (1987), por Georges Dussaud Na terra, camponês

    Quinta das Bateiras (1987), por Georges Dussaud Na terra, camponês, vejo-te derreado ao peso de tanto azul, como o chasco que não se deixasse nomear e andasse de ramo em ramo dentro do carrasco, sem descobrir uma saída. Morreremos ambos ao som da mesma flauta, pois ambos temos de cultivar uma vinha em declive. Escrever [...] Continuar a Ler