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Bruxos & curandeiros
Lourenço Fontes por Leonel de Castro (2013) Não sou dado a acreditar nos poderes ocultos de bruxos e curandeiros, relativamente à solução de problemas psíquicos e orgânicos que a ciência não resolve ou tem dificuldade em resolver. Mas entendamo-nos: lá que certas pessoas, que os consultam, veem os seus padecimentos desaparecerem ou atenuarem-se - disso [...] Continuar a Ler -
Casamento de arromba
Quando cheguei, dei logo conta de que o meu 2CV destoava dos automóveis de luxo que reluziam no largo e pelas ruelas do Fiolhoso (até ouvi um puto dizer, mãos nos bolsos e nariz apontado: “Ah, este é o melhor!”), ruelas onde também velhas casas de blocos de cantaria, meio destelhadas e de portais caídos ou em via disso, destoavam de moradias azulejadas, garridas, com tratores a apanharem o sol em amplos logradouros. A aldeia fica num planalto do concelho de Murça e quase se liga à Levandeira e ao Cadaval que lhe pertencem como freguesia. Algum vinho meio verdasco, milho, castanhas e batatas.
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Corrida de caracóis
Num verão dos anos 50, o Padre Adolfo Magalhães anunciou no Vidago, onde era pároco, uma corrida de caracóis. Os aquistas daquela estância termal acorreram em grande número ao salão do hotel onde o feito ia realizar-se. Muito simples. Em cima de uma mesa, o padre fantasista e bem humorado colocou dois caracóis esfomeados, à [...] Continuar a Ler -
Um passeio no Rio Douro
Terminou o nosso passeio. Douro arriba, quando o autocarro passou a cavaleiro de Mazouco. De Barca de Alva até ali, com tantas curvas entre vinhas, olivais e manchas de um verde esmaecido de amendoeiras, alguns laranjais também, estes de cor mais pimpona, ao aconchego do regadio, impressionou-me o Penedo Durão com seu arreganho para terras [...] Continuar a Ler -
Na noite de S. João
Na noite de S. João, roubei-te os vasos, Maria. Ficaram-te dois no peito que hão-de ser meus, algum dia.
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As panelas suspensas
Na Idade Média praticavam-se as cavalhadas (do castelhano caballadas), torneios de cavaleiros que, com um pau ou uma cana e cavalo à desfilada, procuravam tocar em objetos suspensos de uma corda. O jogo das panelas com burro terá aí a sua origem. Espécie de imitação burlesca. Mas este jogo pode dispensar, como mais acontece, os [...] Continuar a Ler -
Ratos no sotão
Campanha de alfabetização. Foto de Alfredo Cunha. A Francisco Fanhais Esta gente não repara no que vai à sua frente. Nunca pára nem compara. Ai esta gente que gente! Outros escrevem a história; esta gente aceita a escrita. Roubam-lhe tempo e memória. Esta gente nem medita. Andam ratos pelo sótão do nosso belo país. Esta [...] Continuar a Ler -
Homo, mensura
Eu não irei convosco, puros habitantes do sonho. O meu lugar é aqui, entre os homens: falo a sua linguagem, sinto as suas dores e tenho a consciência bem agarrada à carne e ao espírito – os dois poços em que nasce, desagua e se debate a impetuosa água do meu pensamento. Que me importam […]
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A turba
À memória do grande poeta e amigo António Cabral A turba engole-me em sentidos Pela manhã o disco referve A minha antefebre esta volúpia De aromas e cores Vejo-te do arco Dizes-me Para que me debruce na minha vez E não escorregue na vertigem Silencio-me Deixo Que o Douro exale A minha circunstância É ser [...] Continuar a Ler -
Padre Max
Padre Max Ver os destroços do automóvel, o teu corpo ainda. E os dias cumprindo o arco, oh borboletas de fogo! Quem se atreverá a plantar-te na memória? «Foi melhor assim» - disseste, dentro já da inconsútil ideia oferecida. Era quase manhã: anoitecia o teu espírito visível nas estrelas. Digamos que não morreste, a bomba [...] Continuar a Ler