• Caqueirada, cacos, Carnaval, Entrudo, caqueira, cantarinhas, panelas, caçoilos, pucarinhos, bizorros, bilhas, cabaça, pucarinhos, cacadas, casquelhadas, quartão, casquelhos, caqueiros, testadas A caqueirada

    No Carnaval até os cacos entram no banzé: cacos de louça partida e cacos de louça a partir. Como se fosse o tempo de atribuir uma função útil a sarandalhas e escassilhos que já deram o que tinham a dar. Como se o atirá-los para dentro de uma casa fosse um aviso; como se provocá-los ainda uma vez fizesse transpirar do gesto uma lição; ou como se isso não passasse de um excessozinho eufórico em tempo de tácitas permissões.

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  • Mulher carregando cepas por João Pedro Marnoto O molho de giestas

    Quando vem ao longe com um molho de giestas, talvez ela pareça outro molho em posição vertical. Desajeitada. Um dia, um turista, depois de a fotografar com um ar de arqueólogo, e de lhe atirar uns olhos vomitados sobre os pés, cuspiu muito simplesmente para o lado. Vinha descalça. Talvez por comodidade, talvez por necessidade. [...] Continuar a Ler
  • La Scala (Les yeux), Vieira da Silva (1937) A missa do galo

    A Missa do Galo começa à meia noite, mas o Catrino chega uns minutos depois e encosta-se à pia de água benta no fundo da igreja. Calado como um rato, não reza nem canta, vendo-se-lhe somente bulir os olhos, como se fossem as luzinhas dum gravador. Ou pontos de interrogação.

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  • Lavrador trabalhando a terra por João Pedro Marnoto A máquina

    Ainda era uma aldeia sossegada. Começaram a lavrar o quintal da casa onde viviam, ao longo do muro que demarca da via pública a courela cimeira. Ela à frente do jumento e ele atrás com a rabiça do arado. O jumento estacou subitamente e viram alguém chegar à cancela. Ele foi ver. O desconhecido disse-lhe [...] Continuar a Ler
  • A casa junto à igreja de Castedo do Douro onde António Cabral nasceu e passou parte da sua infância (do espólio de António Cabral). A terra onde verdadeiramente nasces

    A casa junto à igreja de Castedo do Douro onde António Cabral nasceu e passou parte da sua infância (do espólio de António Cabral). A terra onde verdadeiramente nasces não é onde te pariu a tua mãe, mas onde foste gerado e/ou passaste a infância, mesmo parte dela, que te marcou para sempre. Veredas e [...] Continuar a Ler
  • Sande (1989), por Georges Dussaud Foi de facto numa roga

    De seu nome Francisco Alexandre Lobo, o caseiro viera para a quinta numa roga de montanheiros dos lados de Jales. Na sua terra, a Cerdeira, tinha assistido à debandada dos rapazes da sua idade, desejosos de vida mais limpa, a governarem agora a vida na França e outros países onde o dia, dizem eles, só tem vinte e quatro horas. Assistiu a isso, enquanto se atolava nos leiros e olhava as estrelas, antes de romper o dia, umas cabras que se lhe punham a chocalhar a luz na testa como o rapaz da campainha à frente dum enterro. Vivia numa casa térrea, só com a mãe e o pai, dois tropeços resignados, e em Agosto ouvia o irmão, que regressava da estranja num bom automóvel e já tinha dinheiro para mandar fazer uma casa e comprar umas courelas para milho e batata com fartura, além de uma pipoca de morangueiro.

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  • Comboio do Douro O comboio do Douro

    Comboio do Douro Do comboio a paisagem oposta vê-se mais e levanta problemas, por isso é bom que no túnel da Valeira os olhos fechem para contas. Tão loquaz seria o alcantil a falar de naufrágios e gente na miséria, peixes que vêm à tona por dá-cá-aquela-palha! Lucidamente in- conveniente, senhor próximo ex-Primeiro Ministro. A [...] Continuar a Ler
  • Ilustração de Nuno Barreto para Poemas Durienses de António Cabral, livro de poesia sobre o Douro natal de António Cabral O lavrador percorrendo a vinha

    Ilustração de Nuno Barreto para Poemas Durienses de António Cabral Ei-lo no meio da vinha, atento, como se ouvisse o próprio coração. Uma vide que toca é um músculo vibrando; um cacho que descobre é um pensamento novo. A terra ondula nos seus passos e fez dele um arbusto sonhador. Quando os seus olhos pousam [...] Continuar a Ler
  • Homem, por Luís Borges Oh meu rico S. João

    Homem, por Luís Borges Ao meu espírito, como aos de toda a gente, dá-lhes às vezes para fazer ventolas no passeio dominical. Sentida a guinada, desvio-me, como não pode deixar de ser. Ainda bem, se o imprevisto é consolador. Ir à Serra da Estrela e parar no caminho para o comes-e-bebes. O sol a derreter [...] Continuar a Ler
  • Ilustração de Nuno Barreto para Poemas Durienses de António Cabral, livro de poesia sobre o Douro natal de António Cabral Uma árvore

    Podíamos ser como esta árvore que dá flores, sem pensar em mais nada. O sol pousa-lhe nos ramos e todas as pétalas o saúdam muito simplesmente, porque é essa a sua maneira de ser. Uma ave descreveu um círculo e passou, um rumor de asas desce pelas folhas, uma canção fere docemente o espaço. Tudo [...] Continuar a Ler